Purmamarca x San
Pedro de Atacama
374km
Acordei cedo e fui procurar
noticias a respeito da greve da Aduana Chilena e para nossa alegria descobrimos
que a greve havia terminado e como eles dizem lá “se levanto el paro”.
Saímos para trocar dólares, pois
esse dia a mais na Argentina havia consumido o resto de Pesos Argentinos que
tínhamos e necessitaríamos dinheiro argentino para mais uma abastecida em
Susque e o almoço, além de deixar uma reserva para o dia que retornássemos para
a Argentina.
Andamos pela cidade e em vários
lugares encontramos quem trocava, mais todos com uma cotação irreal, quase no
valor do cambio oficial, hehe... Andamos mais um pouco e uma jovem em uma loja ofereceu
uma cotação mais perto da realidade $9,60 por dólar. Aceitamos e ela por
telefone chamou o “irmão” que após uns quinze minutos apareceu e fez o cambio
conforme combinado, cada um trocou US$ 50,00.
Voltamos ao hotel pagamos a
conta, nos despedimos do amigo Orlando e partimos após as tradicionais fotos.
Ao sair de Purmamarca já se está subindo
a Cordilheira, o visual é deslumbrante e em pouco tempo já estávamos nas curvas
da Cuesta Lipan. Aí não tem jeito é um sobe na moto, roda um pouco, para, desce
da moto, fica contemplando, bate foto e sobe na moto para rodar novamente,
dessa forma os quilômetros vão passando devagar e o tempo vai voando.
Cuesta Lipan |
Cuesta Lipan |
Quando chegamos ao ponto mais
alto do lado argentino (4.170 mts), um lugar chamado Abra de Potrerillos, já
era mais de 11:00hs da manhã e ainda tínhamos muito chão para andar. A partir
desse ponto a altitude diminui e eu já esperava pela chegada das Salinas
Grandes quando resolvi parar para colocar mais uma blusa e a bala clava, pois o
frio estava intenso. Tínhamos combinado que quando um parasse para bater fotos
os outros seguiriam em velocidade mais reduzida sem parar de modo a não atrasar
tanto a viagem.
Abra de Potrerillos |
O desconforto por conta da
altitude se fez presente e me fez lembrar os velhos tempos de infância quando
eu padecia com a falta de ar provocada pela bronquite, acredite a sensação é a
mesma, você tenta respirar e não tem ar.
Alguns quilômetros a mais e já
pude ver ao longe as Salinas Grandes e fiquei pensando se daria para sair da
estrada com a moto para bater umas fotos. Ao começar a atravessar a salina
observei que a pista segue uns dois metros acima do nível do lago seco e eu não
me animei em descer aquela altura com a moto.
Entroncamento com a RN40 |
Vi o Marino parado à beira da
pista filmando e o Carlos lá embaixo com a moto, o Marino fez sinal para eu
passar para ele filmar, então decidi procurar um lugar mais fácil para poder
descer também. Um pouco mais a frente cheguei a um retiro em que se faz
comércio com artesanato de sal, parei ali para bater fotos e esperar os amigos.
Salinas Grandes |
Logo eles chegaram e contaram que
nas margens da estrada o terreno não é sólido e a lama poderia atolar as motos,
inviabilizando qualquer tentativa de entrar ali com segurança.
Ficamos um tempo por ali curtindo
o lugar e comendo umas bolachas, quando reparamos em um gringo que chegou de
Lander, com placa da Argentina ele levava uma traia bem leve, bateu umas fotos
e partiu apressado, nós também partimos rumo a Susques.
No altiplano tudo é bem árido,
mais bem bonito e diferente, varias localidades iam passando e notei que o
lugar não é desprovido de civilização como pensava. Campo Amarilo, Trez Pozos,
Cerro Negro e varias estradinhas variantes que derivam da rodovia principal,
levando Deus sabe para onde.
A moto vinha respondendo bem até
então, mantendo a velocidade constante (100km/h), embora o acelerador estivesse
no talo, mais a partir da Salina Grande, começou a soprar um forte vento no
sentido contrario que fez o rendimento da moto despencar, a velocidade ia
caindo nas subidas e a moto pedia marcha, 4ª, 3ª, aí na descida ganhava
velocidade e na subida caia novamente.
Seguimos nessa tocada, o Marino à
frente nos esperando com sua Shadow e depois eu e o Carlos nos arrastando com
nossas motos. Eu achava que a XRE ia dar uma surra na Falcon do Carlos que
havia tirado o snorkel em Purmamarca, mais em nenhum momento a Falcon andou
menos que a XRE, a única vantagem da injeção eletrônica da minha moto, foi o
fato de ela não falhar. Ela ia perdendo força de forma linear ao paço que a
Falcon, engasgava, tossia e peidava, como louca....hehe
Chegamos em Susques depois das
13:00hs, embora tivéssemos visto uma placa na cidade indicando YPF a 4km,
decidimos abastecer ali mesmo e não arriscar. Abastecemos no posto de gasolina
mais feio da Argentina e provavelmente com a pior gasolina do país inteiro. Não
animamos em almoçar em Susques, rodamos mais uns 4 km e chegamos ao YPF.
"Posto" de gasolina em Susques |
Aqui vai a dica que eu não tive.
Esse posto 4km à diante de Susques dispõe de toda infra-estrutura, posto,
restaurante e pousada. Não aconselho dormir lá por conta da altitude e do preço,
mais em uma emergência, você não vai passar privação.
Ficamos chapados com a beleza do
lugar, parece feito para motociclistas, a propósito, havia na garagem umas dez
motos grandes, todas com placa do Brasil, uns vindo e outros indo para San
Pedro.
No restaurante conversamos com o
gringo da Lander que nos contou em um espanhol bem mais ou menos que era da
Áustria e que estava em férias na Argentina e vinha rodando desde Buenos Aires,
onde havia alugado a moto, ele comeu alguma coisa e saiu rapidinho. Almoçamos
bem, comemos outro bife monstro com batatas fritas e refrigerante, enrolamos um
pouco conversando com outros brasileiros depois batemos umas fotos e partimos
rumo ao Paso Jama, isso depois das 14:30hs.
A viagem seguia rendendo pouco,
por conta do baixo desempenho de nossas motos e por conta das paradas para
fotos. Em um determinado momento passamos o gringo que estava batendo umas
fotos, logo depois ele nos ultrapassou sem tomar conhecimento de nossa
velocidade, acho que por conta da moto dele estar bem mais leve. Nós não o
vimos mais.
Demorou uma vida para
percorrermos os 150km que separam Susques do Paso Jama, quando chegamos lá já
era quase 18:00hs. Paramos no enorme YPF que tem antes da aduana onde fizemos
um lanche usamos o banheiro e abastecemos as motos.
Complexo fronteiriço |
Em todos os relatos que li, a
informação era que a saída da Argentina se dava no Paso Jama e a entrada no
Chile era feita em San Pedro, mais para nossa surpresa quando chegamos ao Paso,
nos deparamos com uma estrutura enorme, tudo novinho. Na qual na mesma sala se
faz a saída e entrada Argentina x Chile e vice-versa.
A saída da Argentina é rapidinha
já a entrada no Chile é mais demorada, por conta de uma revista soviética para
inglês ver, pois eles olham tudo e não olham nada.
Após os tramites apresentamos um
papel na guarita da Gendarmeria chilena do outro lado do complexo, ele levantou
a cancela e a partir daí já estávamos rodando no Chile. Rodamos mais alguns
quilômetros para chegarmos à placa que indica o limite internacional dos dois
paises.
Limite internacional |
Para minha frustração as fotos
não ficaram boas por conta da posição do sol que batia bem na nossa cara, foi
aí que me caiu a ficha......Puta merda olha a hora!! Ainda falta 160km para
chegar em San Pedro!
Salar de Jama |
Eu sabia que o trecho chileno da
cordilheira era o mais alto e por conseqüência o mais difícil e com aquele frio
se por algum motivo ficássemos presos à noite por ali teríamos problemas. Não
quis preocupar os amigos então não comentei nada, mais na medida do possível
tentei ir apressando as paradas. O Marino já estava meio diferente, não estava
curtindo muito a altitude e também não animava muito em parar.
Os quilômetros iam passando
revelando as belezas do lugar, a cada curva uma nova e espetacular paisagem,
montanhas, lagos, vulcões e gelo! Quando observei um trecho do acostamento
coberto por uma camada de gelo, comecei a ficar preocupado. Ainda estávamos
subindo e o sol já ia se esconde atrás das montanhas, aí o frio ia pegar para
valer, tínhamos que nos mandar rapidinho.
Atingimos o ponto mais alto da
viagem, algo em torno de 4.800mts, não me lembro bem a altitude que indicava no
GPS, mais eu acho que era 4.847metros acima do nível do mar (foto do GPS? Sem
chance..hehe). A temperatura deveria estar em torno de uns 5ºC, na moto em
movimento a sensação era de frio negativo.
A roupa que eu vestia se mostrou
bem adequada, não sentia frio no corpo só nas mãos que ficavam duras, paramos e
aproveitei para esquentar a mão no motor da moto, eu tinha mais dois pares de
luvas baú mais como estava dando para agüentar resolvi não perder tempo
procurando.
No limite do tempo, quando o sol
sumiu no alto da cordilheira, nós transpomos a última montanha e começamos a
descer e ganhamos mais alguns minutos de luz solar, nesse momento o Carlos deu
seta e parou fez sinal com a mão para pararmos e falou.
- Cara não dá mais minhas mãos
vão congelar, pega a outra luva que você tem aí para mim!
Pelo GPS eu observei que faltáva
um pouco mais de 20 km
para chegar em San Pedro, eu sabia que a altitude iria despencar mais de 2.000 mts
nesses vinte quilômetros e que a temperatura lá embaixo estaria bem mais amena.
Então eu disse isso ao amigo e o incentivei a agüentar mais um pouco, pois em
minutos já estaríamos em uma situação melhor e que não valia a pena perder
tempo ali.
Conforme íamos descendo podíamos
sentir a temperatura subindo e em minutos já estávamos na entrada da cidade,
iluminados pelas luzes dos postes. Paramos para esticar o corpo que estava
tenso e duro pelo frio, aproveitei para telefonar para casa e contar que havia
chegado a SAN PEDRO DE ATACAMA!
San Pedro estava movimentada,
seguimos o GPS, desviamos de uma rua, proibida para motos e carros e chegamos
sem dificuldade ao Hostel Intipara.
Fizemos o chek-in com a mulher
que tomava conta do hostel, que nos atendeu com educação mais sem muita
simpatia (típico dos chilenos), guardamos as motos e nos acomodamos no
quartinho que era bem apertadinho.
O Hostel Intipara é bem simples,
mais muito limpo e relativamente confortável, o atendimento é competente e honesto,
na véspera havia trocado e-mails com a responsável que entendeu a situação e
adiou o nosso check-in sem custos.
Após arrumar as coisas e tomar um
banho, eu e o Carlos saímos para dar uma volta, o Marino não quis sair.
Aproveitamos para arrumar dinheiro chileno e comer alguma coisa.
Conversamos e resolvemos testar
nossos cartões que até agora não tinham sido usados, achamos um Banco com caixa
eletrônico que se recusou em nos dar seu dinheiro, perguntamos e encontramos
uma bela farmácia que tinha em seu interior dois caixas eletrônicos. O cartão
do Carlos negou fogo mais o meu não, fiz uma conta meio que de cabeça e saquei
150.000,00 Pesos chilenos para min e depois mais 40.000,00 Pesos chilenos, que
emprestei para o Carlos.
Na minha conversão eu cortei 3
zeros e multipliquei por 5, então achei que teria algo em torno de R$ 1.000,00.
Dinheiro suficiente para uns 4 ou 5 dias no Chile.
Eu tinha o desejo de conhecer o
Café Adobe, então aproveitamos e fomos para lá. O lugar estava cheio e
realmente não decepciona, vale muito a pena. Eu pedi uma sopa e uma garrafa de
vinho de 1/4 (devia ter pedido 1/1...hehe..), o Carlos pediu outro prato que
não me lembro, acompanhado de cerveja.
Café Adobe |
Jantamos e depois voltamos ao
Hostel, pelas ruas escuras de San Pedro.