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domingo, 23 de fevereiro de 2014

Dia 20 de Novembro - 6º dia de viagem.



Purmamarca x San Pedro de Atacama
374km




Acordei cedo e fui procurar noticias a respeito da greve da Aduana Chilena e para nossa alegria descobrimos que a greve havia terminado e como eles dizem lá “se levanto el paro”.

 
Café da manha


 Saímos para trocar dólares, pois esse dia a mais na Argentina havia consumido o resto de Pesos Argentinos que tínhamos e necessitaríamos dinheiro argentino para mais uma abastecida em Susque e o almoço, além de deixar uma reserva para o dia que retornássemos para a Argentina.

Andamos pela cidade e em vários lugares encontramos quem trocava, mais todos com uma cotação irreal, quase no valor do cambio oficial, hehe... Andamos mais um pouco e uma jovem em uma loja ofereceu uma cotação mais perto da realidade $9,60 por dólar. Aceitamos e ela por telefone chamou o “irmão” que após uns quinze minutos apareceu e fez o cambio conforme combinado, cada um trocou US$ 50,00.

Voltamos ao hotel pagamos a conta, nos despedimos do amigo Orlando e partimos após as tradicionais fotos.



Ao sair de Purmamarca já se está subindo a Cordilheira, o visual é deslumbrante e em pouco tempo já estávamos nas curvas da Cuesta Lipan. Aí não tem jeito é um sobe na moto, roda um pouco, para, desce da moto, fica contemplando, bate foto e sobe na moto para rodar novamente, dessa forma os quilômetros vão passando devagar e o tempo vai voando.

Cuesta Lipan



Cuesta Lipan




Quando chegamos ao ponto mais alto do lado argentino (4.170 mts), um lugar chamado Abra de Potrerillos, já era mais de 11:00hs da manhã e ainda tínhamos muito chão para andar. A partir desse ponto a altitude diminui e eu já esperava pela chegada das Salinas Grandes quando resolvi parar para colocar mais uma blusa e a bala clava, pois o frio estava intenso. Tínhamos combinado que quando um parasse para bater fotos os outros seguiriam em velocidade mais reduzida sem parar de modo a não atrasar tanto a viagem.

Abra de Potrerillos



O desconforto por conta da altitude se fez presente e me fez lembrar os velhos tempos de infância quando eu padecia com a falta de ar provocada pela bronquite, acredite a sensação é a mesma, você tenta respirar e não tem ar.

Alguns quilômetros a mais e já pude ver ao longe as Salinas Grandes e fiquei pensando se daria para sair da estrada com a moto para bater umas fotos. Ao começar a atravessar a salina observei que a pista segue uns dois metros acima do nível do lago seco e eu não me animei em descer aquela altura com a moto.

Entroncamento com a RN40


Vi o Marino parado à beira da pista filmando e o Carlos lá embaixo com a moto, o Marino fez sinal para eu passar para ele filmar, então decidi procurar um lugar mais fácil para poder descer também. Um pouco mais a frente cheguei a um retiro em que se faz comércio com artesanato de sal, parei ali para bater fotos e esperar os amigos.

Salinas Grandes














Logo eles chegaram e contaram que nas margens da estrada o terreno não é sólido e a lama poderia atolar as motos, inviabilizando qualquer tentativa de entrar ali com segurança.

Ficamos um tempo por ali curtindo o lugar e comendo umas bolachas, quando reparamos em um gringo que chegou de Lander, com placa da Argentina ele levava uma traia bem leve, bateu umas fotos e partiu apressado, nós também partimos rumo a Susques.



No altiplano tudo é bem árido, mais bem bonito e diferente, varias localidades iam passando e notei que o lugar não é desprovido de civilização como pensava. Campo Amarilo, Trez Pozos, Cerro Negro e varias estradinhas variantes que derivam da rodovia principal, levando Deus sabe para onde.









A moto vinha respondendo bem até então, mantendo a velocidade constante (100km/h), embora o acelerador estivesse no talo, mais a partir da Salina Grande, começou a soprar um forte vento no sentido contrario que fez o rendimento da moto despencar, a velocidade ia caindo nas subidas e a moto pedia marcha, 4ª, 3ª, aí na descida ganhava velocidade e na subida caia novamente.

Seguimos nessa tocada, o Marino à frente nos esperando com sua Shadow e depois eu e o Carlos nos arrastando com nossas motos. Eu achava que a XRE ia dar uma surra na Falcon do Carlos que havia tirado o snorkel em Purmamarca, mais em nenhum momento a Falcon andou menos que a XRE, a única vantagem da injeção eletrônica da minha moto, foi o fato de ela não falhar. Ela ia perdendo força de forma linear ao paço que a Falcon, engasgava, tossia e peidava, como louca....hehe

 
Cidade de Susques

Chegamos em Susques depois das 13:00hs, embora tivéssemos visto uma placa na cidade indicando YPF a 4km, decidimos abastecer ali mesmo e não arriscar. Abastecemos no posto de gasolina mais feio da Argentina e provavelmente com a pior gasolina do país inteiro. Não animamos em almoçar em Susques, rodamos mais uns 4 km e chegamos ao YPF.

"Posto" de gasolina em Susques


Aqui vai a dica que eu não tive. Esse posto 4km à diante de Susques dispõe de toda infra-estrutura, posto, restaurante e pousada. Não aconselho dormir lá por conta da altitude e do preço, mais em uma emergência, você não vai passar privação.
 



Ficamos chapados com a beleza do lugar, parece feito para motociclistas, a propósito, havia na garagem umas dez motos grandes, todas com placa do Brasil, uns vindo e outros indo para San Pedro.

No restaurante conversamos com o gringo da Lander que nos contou em um espanhol bem mais ou menos que era da Áustria e que estava em férias na Argentina e vinha rodando desde Buenos Aires, onde havia alugado a moto, ele comeu alguma coisa e saiu rapidinho. Almoçamos bem, comemos outro bife monstro com batatas fritas e refrigerante, enrolamos um pouco conversando com outros brasileiros depois batemos umas fotos e partimos rumo ao Paso Jama, isso depois das 14:30hs.

A viagem seguia rendendo pouco, por conta do baixo desempenho de nossas motos e por conta das paradas para fotos. Em um determinado momento passamos o gringo que estava batendo umas fotos, logo depois ele nos ultrapassou sem tomar conhecimento de nossa velocidade, acho que por conta da moto dele estar bem mais leve. Nós não o vimos mais.

Demorou uma vida para percorrermos os 150km que separam Susques do Paso Jama, quando chegamos lá já era quase 18:00hs. Paramos no enorme YPF que tem antes da aduana onde fizemos um lanche usamos o banheiro e abastecemos as motos.

Complexo fronteiriço
 
Em todos os relatos que li, a informação era que a saída da Argentina se dava no Paso Jama e a entrada no Chile era feita em San Pedro, mais para nossa surpresa quando chegamos ao Paso, nos deparamos com uma estrutura enorme, tudo novinho. Na qual na mesma sala se faz a saída e entrada Argentina x Chile e vice-versa.

A saída da Argentina é rapidinha já a entrada no Chile é mais demorada, por conta de uma revista soviética para inglês ver, pois eles olham tudo e não olham nada.

Após os tramites apresentamos um papel na guarita da Gendarmeria chilena do outro lado do complexo, ele levantou a cancela e a partir daí já estávamos rodando no Chile. Rodamos mais alguns quilômetros para chegarmos à placa que indica o limite internacional dos dois paises.

Limite internacional










Para minha frustração as fotos não ficaram boas por conta da posição do sol que batia bem na nossa cara, foi aí que me caiu a ficha......Puta merda olha a hora!! Ainda falta 160km para chegar em San Pedro!

Salar de Jama

Eu sabia que o trecho chileno da cordilheira era o mais alto e por conseqüência o mais difícil e com aquele frio se por algum motivo ficássemos presos à noite por ali teríamos problemas. Não quis preocupar os amigos então não comentei nada, mais na medida do possível tentei ir apressando as paradas. O Marino já estava meio diferente, não estava curtindo muito a altitude e também não animava muito em parar.





Os quilômetros iam passando revelando as belezas do lugar, a cada curva uma nova e espetacular paisagem, montanhas, lagos, vulcões e gelo! Quando observei um trecho do acostamento coberto por uma camada de gelo, comecei a ficar preocupado. Ainda estávamos subindo e o sol já ia se esconde atrás das montanhas, aí o frio ia pegar para valer, tínhamos que nos mandar rapidinho.





Atingimos o ponto mais alto da viagem, algo em torno de 4.800mts, não me lembro bem a altitude que indicava no GPS, mais eu acho que era 4.847metros acima do nível do mar (foto do GPS? Sem chance..hehe). A temperatura deveria estar em torno de uns 5ºC, na moto em movimento a sensação era de frio negativo.

A roupa que eu vestia se mostrou bem adequada, não sentia frio no corpo só nas mãos que ficavam duras, paramos e aproveitei para esquentar a mão no motor da moto, eu tinha mais dois pares de luvas baú mais como estava dando para agüentar resolvi não perder tempo procurando.

No limite do tempo, quando o sol sumiu no alto da cordilheira, nós transpomos a última montanha e começamos a descer e ganhamos mais alguns minutos de luz solar, nesse momento o Carlos deu seta e parou fez sinal com a mão para pararmos e falou.

- Cara não dá mais minhas mãos vão congelar, pega a outra luva que você tem aí para mim!

Pelo GPS eu observei que faltáva um pouco mais de 20 km para chegar em San Pedro, eu sabia que a altitude iria despencar mais de 2.000 mts nesses vinte quilômetros e que a temperatura lá embaixo estaria bem mais amena. Então eu disse isso ao amigo e o incentivei a agüentar mais um pouco, pois em minutos já estaríamos em uma situação melhor e que não valia a pena perder tempo ali.

Conforme íamos descendo podíamos sentir a temperatura subindo e em minutos já estávamos na entrada da cidade, iluminados pelas luzes dos postes. Paramos para esticar o corpo que estava tenso e duro pelo frio, aproveitei para telefonar para casa e contar que havia chegado a SAN PEDRO DE ATACAMA!

 
Foto tirada no dia seguinte

San Pedro estava movimentada, seguimos o GPS, desviamos de uma rua, proibida para motos e carros e chegamos sem dificuldade ao Hostel Intipara.

Fizemos o chek-in com a mulher que tomava conta do hostel, que nos atendeu com educação mais sem muita simpatia (típico dos chilenos), guardamos as motos e nos acomodamos no quartinho que era bem apertadinho.

O Hostel Intipara é bem simples, mais muito limpo e relativamente confortável, o atendimento é competente e honesto, na véspera havia trocado e-mails com a responsável que entendeu a situação e adiou o nosso check-in sem custos.

Após arrumar as coisas e tomar um banho, eu e o Carlos saímos para dar uma volta, o Marino não quis sair. Aproveitamos para arrumar dinheiro chileno e comer alguma coisa.

Conversamos e resolvemos testar nossos cartões que até agora não tinham sido usados, achamos um Banco com caixa eletrônico que se recusou em nos dar seu dinheiro, perguntamos e encontramos uma bela farmácia que tinha em seu interior dois caixas eletrônicos. O cartão do Carlos negou fogo mais o meu não, fiz uma conta meio que de cabeça e saquei 150.000,00 Pesos chilenos para min e depois mais 40.000,00 Pesos chilenos, que emprestei para o Carlos.

Na minha conversão eu cortei 3 zeros e multipliquei por 5, então achei que teria algo em torno de R$ 1.000,00. Dinheiro suficiente para uns 4 ou 5 dias no Chile.

Eu tinha o desejo de conhecer o Café Adobe, então aproveitamos e fomos para lá. O lugar estava cheio e realmente não decepciona, vale muito a pena. Eu pedi uma sopa e uma garrafa de vinho de 1/4 (devia ter pedido 1/1...hehe..), o Carlos pediu outro prato que não me lembro, acompanhado de cerveja.

Café Adobe



Jantamos e depois voltamos ao Hostel, pelas ruas escuras de San Pedro.